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Ativos estratégicos e guardiões invisíveis do bem-estar organizacional

Profissionais brasileiros participam do World Workplace 2025 da IFMA

Por Léa Lobo

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Foto: Divulgação


Entre os dias 17 e 19 de setembro, Minneapolis (EUA) recebeu o World Workplace 2025, conferência global promovida pela International Facility Management Association (IFMA). O evento marca os 45 anos da entidade e celebra três décadas de sua principal conferência, consolidando-se como o mais relevante encontro mundial dedicado a Facility, Property & Workplace Management.

No cenário internacional, o World Workplace consolida-se como uma plataforma estratégica de atualização, conexão e aprendizado para gestores de facilities em todo o mundo. Neste ano, além da participação da InfraFM, uma delegação de gestores brasileiros marcou presença no evento, reforçando o compromisso nacional com o avanço global do setor.

 

O impacto do World Workplace 2025

Fundada em 1980, a IFMA reúne atualmente mais de 25 mil membros em 140 países, sendo reconhecida como a principal associação global de Facility Management. O evento de 2025 teve início com um programa especial de celebração, destacando a evolução da entidade e o papel crescente do gestor de facilities como agente estratégico das organizações.

Um dos destaques da programação foi a palestra de Daymond John, fundador da FUBU e investidor do programa “Shark Tank”, que abordou a importância da liderança resiliente e da mentalidade de sucesso em ambientes de negócios cada vez mais voláteis.

Segundo Michael V. Geary, presidente e CEO da IFMA, o grande mérito da associação nestas quatro décadas é o reconhecimento universal do gestor de facilities como ativo estratégico. “Empresas modernas, eficientes e resilientes recorrem cada vez mais às suas equipes de FM para navegar em cenários de transformação e disrupção”, afirmou.

 

World Workplace abre com estreia de Christa Dodoo à frente da IFMA

Pela primeira vez no cargo, a nova CEO da International Facility Management Association (IFMA), Christa Dodoo, deu as boas-vindas aos participantes, marcando um início histórico tanto para a sua gestão quanto para a trajetória do evento.

Com entusiasmo visível, Dodoo agradeceu aos membros, diretores e equipe da IFMA, reconhecendo o trabalho diário dos profissionais de FM em manter pessoas, lugares e ambientes seguros, produtivos e inspiradores. “Vocês são os guardiões invisíveis do bem-estar organizacional”, resumiu, destacando o papel estratégico que a profissão ocupa no cenário global. Ela reforçou que o World Workplace foi desenhado para oferecer um programa dinâmico de aprendizagem, networking e troca de experiências capaz de beneficiar tanto carreiras quanto organizações. “O profissional de FM deixou de ser visto como apenas operacional. Hoje, é parceiro estratégico de negócios, essencial para a resiliência e reputação das organizações”, destacou.

 

Tradição, inovação e futuro

A sessão inaugural ainda contou com a apresentação de Bill Davies, Vice Presidente da Davies Offices, empresa fundada em 1948 e hoje referência em soluções sustentáveis alinhadas à economia circular e à descarbonização. Encerrando a abertura, o público foi preparado para a entrada de um convidado especial,empresário globalmente reconhecido, figura de destaque no programa Shark Tank e autor bestseller, reforçando a proposta do World Workplace de unir tradição, inovação e inspiração em uma mesma plataforma.

 

Daymond John retrata a vida como o maior negócio do mundo

Conhecido mundialmente como fundador da FUBU e um dos “tubarões” do programa Shark Tank, Daymond John subiu ao palco para partilhar a sua trajetória empreendedora. Com humor, franqueza e intensidade, redefiniu o conceito de sucesso, colocando-o para além do dinheiro: trata-se de impacto, responsabilidade social e da forma como cada um conduz o “negócio mais importante do mundo: a sua própria vida”.

Nascido no Brooklyn e criado no Queens, John assumiu responsabilidades precoces após o divórcio dos pais, trabalhando aos 10 anos por 2,25 dólares à hora. A lição mais forte veio de sua mãe: “responsabilidade é algo que deve ser assumido e não pode ser perdido”. Essa mentalidade moldou a forma como enxergou o trabalho e o significado de sucesso. Para ele, ser bem-sucedido não se resume a contas bancárias recheadas, mas a interromper o tráfico humano, valorizar professores, proteger os vulneráveis, dedicar-se à fé e tornar espaços mais seguros.

John descreveu o hip-hop como uma “tecnologia de comunicação” dos jovens de sua época, capaz de traduzir sonhos, tensões sociais e aspirações. A cena cultural mostrou-lhe que a criatividade e a autenticidade podiam ultrapassar barreiras de cor, género e status. Foi nesse caldo cultural que floresceu a ideia de criar uma marca de roupas que falasse diretamente com essa comunidade: a FUBU – For Us By Us.

Enquanto trabalhava num restaurante Red Lobster, John assistiu a um erro estratégico de marcas tradicionais de vestuário, que desprezavam o público ligado ao hip-hop. Esse “insulto” revelou uma lacuna de mercado. Inspirado pelo conselho do avô (“sê pró-negro, mas nunca anti-nada”), e com a mãe como professora de costura, começou a fabricar bonés em casa. Em poucas horas, vendia 800 dólares em produtos. A semente da FUBU estava plantada.

 

O método SHARK e a disciplina de objetivos

Daymond John destacou o primeiro dos seus “5 pontos SHARK”: definir objetivos claros. Ele próprio escrevia e relia diariamente uma lista de dez metas, seis de curto prazo e quatro de longo prazo. Entre elas, constavam sonhos curiosos, como conhecer Michael Jackson, Muhammad Ali e Prince. Para ele, sem objetivos pessoais, acabamos a viver para cumprir os objetivos dos outros.

O empresário também desmistificou bastidores do Shark Tank. Ao contrário dos curtos 8 minutos exibidos, cada pitch pode durar até duas horas e meia, com 16 horas de gravações e câmeras múltiplas. Cerca de 65% dos negócios vistos na TV se concretizam, mas o processo leva até nove meses. “Investimos em pessoas, não apenas em números”, frisou John, lembrando que falhas anteriores muitas vezes indicam resiliência para novos negócios.

 

As “duas a cinco palavras” e a marca pessoal

Outro ponto central da palestra foi a importância de definir uma marca pessoal e profissional em “duas a cinco palavras” – como Nike com “Just Do It” ou Apple com “Think Different”. Segundo ele, se não definirmos a nossa identidade, o mercado definirá por nós.

John encerrou sua fala abordando a importância da saúde, contando como a detecção precoce do câncer salvou sua vida e como hoje pratica o “biohacking”. Ressaltou ainda que empreendedorismo é menos sobre enriquecer e mais sobre deixar um legado. Sua mensagem final ecoou entre os participantes: “continuem a nadar”, uma metáfora para persistir apesar das adversidades.

 

David eagleman e o inconsciente que governa nossas escolhas

Como explicar que alguém chamado Dennis acabe, estatisticamente, mais vezes na profissão de dentista? Ou que segurar uma chávena de café quente leve a percepções mais afetuosas sobre relações pessoais? Para o neurocientista David Eagleman, estas não são coincidências, mas evidências do poder esmagador do inconsciente na vida quotidiana. Em sua palestra, ele conduziu a plateia por uma viagem ao cérebro humano, revelando como decisões, preferências e até destinos profissionais são moldados por processos que escapam ao nosso acesso consciente.

 

O cérebro invisível que decide por nós

Eagleman abriu com exemplos marcantes: pupilas dilatadas que sinalizam atração sem que a pessoa perceba conscientemente, ou a tendência para casamentos entre pessoas cujos nomes começam pela mesma letra. São manifestações do que ele chama de egotismo implícito, a inclinação natural de gostar daquilo que nos remete a nós próprios. Esses impulsos, embora invisíveis, orientam escolhas aparentemente racionais.

O cientista comparou a mente consciente às manchetes de um jornal, o essencial, resumido. Já os detalhes da operação cerebral, com seus 86 mil milhões de neurónios, permanecem nos bastidores. “Não precisamos saber como movemos o café até à boca, apenas de saborear o resultado”, explicou.

 

O parlamento neural e a luta interna

Ao contrário da ideia de um “eu indivisível”, Eagleman descreve o cérebro como um parlamento neural em constante debate. Redes diferentes, todas leais ao “país” que é o indivíduo, disputam a melhor decisão. Uma parte quer comer, outra teme engordar, uma terceira propõe compensar no ginásio. Essa democracia interna também explica dilemas éticos como o famoso Trolley Problem: desviar um comboio para salvar cinco vidas sacrificando uma é aceitável para a maioria; empurrar alguém da ponte, não. A diferença? Redes emocionais distintas votam de forma divergente.

 

Entre o agora e o depois

Outra fragilidade humana é o chamado desconto hiperbólico, que é a tendência de preferir recompensas imediatas em detrimento das futuras. É por isso que muitos escolhem 100 dólares hoje em vez de 110 daqui a uma semana, mas aceitam esperar um ano se o intervalo for mais longo. Foi esse mecanismo, argumenta Eagleman, que alimentou bolhas financeiras como a de 2007.

A saída está nos chamados contratos de Ulisses: mecanismos para proteger o “eu futuro” das tentações do presente. De clubes de Natal que forçam poupança a aplicativos de apostas em metas de treino, tudo funciona melhor quando o ambiente é estruturado para reduzir escolhas impulsivas.

 

Criatividade como vacina contra a rotina

Num mundo em mutação acelerada pela tecnologia e pela inteligência artificial, a automatização já não basta. É preciso cultivar flexibilidade cognitiva e criatividade. Eagleman recordou exemplos de artistas como Monet, Hokusai e Picasso, que repetiram e variaram incessantemente os mesmos temas para expandir horizontes mentais. Citou ainda Leonardo da Vinci, que descartava as primeiras ideias de propósito, forçando o cérebro a explorar novas conexões.

A lição é que a novidade alimenta o cérebro. Experimentos mostram que ambientes estimulantes aumentam a conectividade neuronal, enquanto contextos pobres a reduzem. Do simples hábito de mudar o trajeto diário a aprender um instrumento, qualquer desafio que quebre a rotina fortalece a plasticidade cerebral.

 

O cérebro pede festa, não isolamento

Para Eagleman, a mensagem final é otimista: o cérebro é plástico, adaptável, faminto por estímulos. Cabe a cada um de nós transformar ambientes pessoais e profissionais em “caixas de festa” em vez de caixas isoladas, abraçando a mudança contínua como parte da vida.

“Quanto mais novidade colocamos no caminho, mais longa e rica a vida nos parece”, afirmou, deixando a audiência com a provocação de que, embora o inconsciente governe muito do que somos, ainda está em nossas mãos a chance de desenhar ambientes e hábitos que nos empurrem para melhores versões de nós mesmos.

 

Palestras diversas no world workplace 2025

A edição deste ano reuniu centenas de sessões técnicas, painéis e estudos de caso, abordando desde inteligência artificial até liderança circular. O resultado foi um mosaico rico que espelha os desafios e oportunidades da profissão em transformação.

Diversidade e carreira, o espaço das mulheres e jovens em FM - O painel Women in FM, apoiado pela Sodexo e IFMA Foundation, trouxe líderes femininas discutindo como diferenciar-se para crescer em um setor ainda marcado por desigualdades. Já a sessão YP Moshpit – The FM Career Map ofereceu um guia interativo para jovens profissionais explorarem as múltiplas carreiras possíveis no ecossistema FM, de sustentabilidade a tecnologia.

Gamificação, curiosidade e liderança - A criatividade esteve presente em formatos inovadores como o Facilities Feud, um game-show baseado na pesquisa “Voice of the Facility Manager 2025”, revelando desafios práticos como IA, ESG e orçamentos apertados. Já a sessão How FMs Can Lead with Intentional Curiosity mostrou que liderar com curiosidade intencional é um diferencial estratégico para formar equipes mais resilientes.

 

Dados, analistas e a era digital - O futuro data-driven foi explorado em várias frentes:

  • The Rise of the FM Analyst destacou a emergência do profissional que traduz dados em narrativas estratégicas.
  • Post-Occupancy Data Collection mostrou como avaliações pós-ocupação podem retroalimentar projetos e estratégias.
  • Advancing Facilities Management with a Digital Thread e Facility Risk Management in a Digital Landscape abordaram integração de dados e riscos no ambiente digital.
  • Unlocking Value: Strategic Modernization of EAM Programs reforçou a urgência de atualizar programas de gestão de ativos.

 

Tecnologia, IA e automação - A adoção tecnológica foi desmistificada em várias sessões:

  • Beyond Hardware analisou os custos invisíveis da adoção de tecnologias.
  • AI Strategies for Facility Leaders e Unlocking the Full Potential of AI in FM apresentaram casos reais de predição, automação e eficiência energética.
  • Revolutionize Space and Occupancy Planning with AI e Priming for AI trouxeram o debate sobre integração de gêmeos digitais, sensores e algoritmos de machine learning.
  • Beyond the Algorithm, com participação da OpenAI, discutiu aplicações práticas de IA generativa no planejamento de espaços.

 

Sustentabilidade e circularidade - O compromisso com ESG e descarbonização apareceu em múltiplos formatos:

  • Good Leads the Way (case United Airlines HQ) mostrou práticas de design circular e reaproveitamento de 500 toneladas de materiais.
  • Harnessing the FM Supply Chain to Drive Decarbonization trouxe o programa global de engajamento de fornecedores da CBRE.
  • Remanufacturing Office Furniture e Furniture Waste Transformation abordaram economia circular aplicada a mobiliário.
  • Blue Zone Buildings apresentou padrões de saúde em ambientes construídos para combater doenças crônicas.
  • Sessões como Circular Leadership e Saving Sustainability by Saving Money mostraram a ligação entre sustentabilidade e viabilidade econômica.

 

Segurança, riscos e resiliência - O eixo de Risk Management ganhou destaque em:

  • Managing Fire and Electrical Risks, sobre normas NFPA.
  • Beyond the Flames, sobre riscos de incêndios florestais e qualidade do ar.
  • The FM’s Role in Building Resilient Workplaces, sobre resiliência organizacional.
  • Ranking Lethal Risk e Emergency Modes of Ventilation, que conectaram preparação a cenários críticos como pandemias, incêndios e desastres químicos.

Experiência do ocupante e hospitalidade - Sessões como How Data Brings Hospitality to the Facilities Experience mostraram como dados e IA podem aprimorar serviços com foco humano. Solving the Top 10 Indoor Environmental Quality Complaints ofereceu soluções práticas para queixas recorrentes de ar, ruído e conforto.


Gestão de projetos e ciclo de vida -  O papel do FM nos projetos foi enfatizado em:

  • The Owners Dilemma e Successful Transition from Construction Project, sobre a importância do envolvimento precoce do FM.
  • Life Cycle Costing & Space Planning Benchmarks, mostrando como o planejamento estratégico reduz custos e aumenta desempenho.
  • The Love Boat, um estudo de caso de construção de HQ com foco em bem-estar.


Soft skills, comunicação e liderança circular - Longe de se limitar a técnicas e tecnologia, o evento trouxe também reflexões humanas:

  • You Talkn’ To Me? Effective Communication Using EQ explorou inteligência emocional no dia a dia do gestor.
  • Soft Skills, Strong Project Results conectou habilidades interpessoais a resultados concretos em obras.
  • FM Uncorked ensinou a “vender” o valor do FM ao C-Suite.
  • Circular Leadership destacou o papel dos FMs como orquestradores de mudança organizacional rumo à economia circular.

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