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Por que pensar na experiência do usuário? De biblioteca a planejamento urbano

Como arquitetura impacta o comportamento humano para além das paredes dos prédios. Garanta insights sobre projetos personalizados e criação de espaços urbanos de alta qualidade.

Por Natalia Gonçalves

Por que pensar na experiência do usuário? De biblioteca a planejamento urbano

Biblioteca Central de Seattle custou U$ 123,1 milhões e foi reconhecida como Prédio do Ano pela Time, em 2004. Foto: Canva.com/ Edward Palm


A arquitetura pode fazer muito além da estética, pois ela influencia o comportamento humano. Para Joshua Prince-Ramus, fundador e presidente do escritório de arquitetura REX, quando a mudança de comportamento acontece, ela vai além das paredes dos prédios e influencia as comunidades. Prince-Ramus foi um dos palestrantes do Seminário Novas Centralidades Urbanas, organizado pelo Arq. Futuro.

Durante a palestra, Joshua falou sobre quatro projetos da REX e os impactos deles nas comunidades onde estão inseridos, com destaque para a Biblioteca Central de Seattle. Para o arquiteto, um dos maiores problemas de Seattle, cidade onde nasceu, é a falta de espaços urbanos públicos. Assim, a biblioteca proporcionou esse lugar de forma interiorizada, sendo uma alternativa aos shopping centers.

Neste sentido, ele destaca dois pontos: o projeto foi desenvolvido durante o crescimento de grandes empresas de tecnologia, como Amazon e Microsoft, em 1999 e foi criado a partir de consultas com bibliotecários. Enquanto o avanço tecnológico ameaçava o hábito de reservar livros em bibliotecas, pois a informação estava a um clique de distância, Prince-Ramus defendeu a instituição como um local para encontrar informações qualificadas, de diferentes mídias, através de curadoria. Com doutorados e especializações, os bibliotecários foram alocados em evidência.​

“Então, eu queria pensar no edifício como sendo organizado em torno dos bibliotecários. Na organização convencional da biblioteca, é isso que acontece: eles são colocados em pequenos feudos ao redor do prédio, cada um deles controla uma seção e você entra no sistema para encontrar o que precisa. Assim, eles são reduzidos a pessoas que te pegam pela mão e te levam pela biblioteca para te ajudar a encontrar alguma coisa, mas isso é incrivelmente ineficiente e um uso terrível dos conhecimentos deles”, destaca o especialista.

Leia também: Projetos antiurbanos: qual o papel de FM em repensar as cidades?


Assim, houve a criação de uma "espiral do livro" para navegabilidade parecida com a experiência em estacionamentos. "Isso significou tirar todos os bibliotecários dos livros, da função de gestores de materiais, e organizá-los em algo que chamamos de Mixing Chamber (“câmera de mistura”, em tradução livre)", diz Prince-Ramus. Nessa “câmera”, o visitante pode encontrar bibliotecários com diferentes formações, desde cientistas sociais a matemáticos, e receber recomendações de leituras por área de interesse.

Atualmente, a biblioteca possui 21 anos e quatro milhões de visitantes por ano. "Isso é dez vezes o número [de visitantes] do edifício anterior. O prédio original, que nós destruímos, tinha 272 colaboradores. Hoje ele possui 273, com o dobro de tamanho. Além disso, o número de empréstimos quadriplicou na era digital", enfatiza o arquiteto. Com o intuito de defender soluções personalizadas e a valorização da experiência do usuário, o arquiteto também apresentou os cases: Perelman Performing Arts Center, Shenzhen Opera House e Elizabeth Quay 1.0.

Seminário Novas Centralidades Urbanas, organizado pelo Arq. Futuro

Evento aconteceu no Teatro Oficina do Estudante Iguatemi, em Campinas. Foto: Divulgação/ Guilherme Gongra


Medellín: case de urbanismo social já foi cidade mais violenta do mundo

​Para discutir as novas centralidades urbanas, o seminário do laboratório Arq. Futuro também convidou Alejandro Echeverri, arquiteto e urbanista responsável pela transformação de Medellín, Colômbia. No começo dos anos 1990, a cidade foi considerada a mais violenta do mundo, quando chegou a registrar 360 homicídios por 100 mil habitantes. Entre 2004 e 2008, Echeverri foi secretário de Desenvolvimento Urbano da cidade: “com o objetivo de melhorar a precariedade dos bairros mais populosos, mas também de aumentar a possibilidade de acesso ao transporte, desenvolvemos o que chamamos de urbanismo social”.

A estratégia de urbanização, como explica Echeverri, era selecionar algumas áreas críticas da cidade e, de forma planejada, realizar uma multiplicidade de investimentos, projetos e programas em transporte público, espaço público, habitação, mas também programas educacionais e culturais. “O primeiro deles nasceu com o primeiro teleférico, que é o sistema de transporte integrado ao metrô da cidade”, conta.

Medellín, Colômbia

Em 2016, Medellín recebeu o prêmio Lee Kuan Yew World City Prize. Foto: Canva.com/ jkraft52


Quando assumiu o cargo de secretário, ele lembra de escutar que era impossível transformar Medellín, pois era uma cidade sem esperança. Com planejamento de recursos e identificação das áreas mais violentas e precárias, a secretaria selecionou três regiões para atuar nos primeiros quatro anos. Através de sistemas de transporte público de alta qualidade, projetos arquitetônicos e criação de novas escolas, houve a criação de espaços integrados nas comunidades. 

Ainda no começo dos anos 2000, cada bairro era protegido por diferentes milícias de forma violenta e não era possível, por exemplo, ir de um bairro a outro depois das 17h. “Hoje não posso dizer que Medellín é uma cidade sem violência, mas posso dizer que naquela época não tínhamos futuro, não o víamos, e hoje existe um espírito muito diferente de possibilidades e de criatividade. Eu gostaria que esse tipo de estratégia continuasse por 20 ou 30 anos, para gerar uma solução muito mais estrutural”, afirma.

Para o arquiteto e urbanista, a ilegalidade não vai desaparecer de um dia para o outro, mas é possível reduzir a violência com investimentos. Em Medellín, houve a estratégia de iluminar os bairros críticos e conectar os itinerários dos moradores. Com a criação da estação de teleférico, no primeiro momento, e a construção de uma ponte, houve o surgimento de uma nova centralidade. Atualmente, esse eixo é uma avenida com economia local ativa, com mais de 400 estabelecimentos.

“Uma das consequências mais extraordinárias, quando se gera um espaço de confiança e de presença do governo, é o início de atividades econômicas nos bairros. A segurança faz com que aquelas casas, que eram de um só andar, expandam, pois os comércios ocupam o primeiro andar, enquanto as famílias ficam no andar superior. Isso é um círculo de investimento virtuoso, mas para isso você precisa de segurança e de alguma forma de confiança”, analisa Echeverri.

Além das palestras de Joshua Prince-Ramus e Alejandro Echeverri, o evento contou com a apresentação de três casos de urbanismo: London King’s Cross, Inglaterra, pela professora Nadia Somekh, Pedra Branca, Santa Catarina, pelo empresário Marcelo Gomes e Casa Figueira, Campinas, pelo empresário Carlos Jereissati Filho.


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