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Limpeza como valor absoluto

Pela primeira vez fora da Europa, o Forum Pulire America reúne empresas do setor de asseio e conservação para discutir temas sobre tecnologia, sustentabilidade, qualificação, dignidade e reputação

Por Léa Lobo

O Forum Pulire America reuniu empresários do setor profissional de asseio e conservação, nos dias 9 e 10 de agosto. O encontro bienal que sempre aconteceu em cidades italianas, veio ao Brasil e trouxe o conceito de “limpeza como valor absoluto”. O evento foi promovido pela Fundação do Asseio e Conservação do Estado do Paraná (Facop), que se uniu a dois gigantes mundiais do setor: a Associazione dei Fabbricanti Italiani di Macchine, Prodotti e Attrezzi (Afidamp, em português “Associação de Fabricantes Italianos de Equipamentos, Máquinas e Produtos para Limpeza Profissional”), e a estadunidense International Sanitary Supply Association (ISSA, em português “Associação Mundial da Indústria de Limpeza”). Em sete painéis foram discutidos temas sobre tecnologia, sustentabilidade, qualificação, dignidade e reputação.

O Fórum Pulire América contou com a participação de executivos brasileiros e de países como Estados Unidos, Itália, Espanha, Nicarágua, México e Argentina. Realizado a cada dois anos em Milão, na Itália, o evento foi trazido a Curitiba porque a América Latina se tornou o mercado que mais cresce no mundo, no setor da indústria de multisserviços, segundo conta o Promotor do evento, o norte-americano, John Barret, Diretor Executivo da ISSA, a maior instituição mundial na área de higiene e conservação.

Na abertura do encontro, o Presidente da Facop, Adonai Arruda, lembrou a importância do setor de asseio e conservação para o cenário político e econômico e destacou que ele é o segundo maior empregador brasileiro de mão de obra, responsável por mais de 2,3 milhões de empregos – um milhão deles ocupados por mulheres. Explicou ainda que pulire (“limpar”, em italiano) representa a expressão “limpeza” entendida pelo viés da ética e da busca da conscientização, transparência e honestidade. Já Barret enfatizou “Se você não consegue ver um novo futuro, ter esperanças, está condenado a repetir o pior do seu passado”, ao defender a limpeza como um valor absoluto, tanto concreta como filosoficamente, e a necessidade de as empresas transformarem suas práticas sem repetir modelos antigos. Já a discussão sobre a ética, de acordo com o Diretor Executivo da Afidamp, Toni D’Andrea, deve ser uma “inspiração para o mundo”.

Tecnologia

“Como a tecnologia impacta o setor de higiene e conservação, tornando possível um milhão de transações de manutenção por mês no mercado brasileiro” foi o tema de abertura do painel sobre o assunto mediado pelo Diretor Geral da Kärcher do Brasil, Abílio Cepêra. Ele apresentou o primeiro robô totalmente autossuficiente tanto nas ações de limpeza como de sua própria manutenção, o Fleet, desenvolvido pela matriz alemã. Já o Executivo do Blockchain Research Institute no Brasil e Coordenador da Pós-Graduação em Blockchain da FGV, Carl Amorim, apresentou o que já se conhece como a segunda era da internet. Segundo ele, o blockchain vai descentralizar as transações pela internet, tornando obsoleta a mediação de um banco, por exemplo, para transações monetárias, ou de um cartório, para confirmar assinaturas e títulos ou transações imobiliárias.

Sustentabilidade

“Sustentabilidade” significa haver o suficiente para todos para sempre. Com essa simples definição, o Ex-presidente e atual conselheiro do Instituto Akatu de Consumo Consciente, Ricardo Vacaro, abriu o painel. Chegar lá, no entanto, ainda é uma meta a ser perseguida. Com a experiência de quem milita no setor há muitos anos, Vacaro citou pesquisa que mostra que 61% da população brasileira sequer sabe dizer o que é um produto sustentável. E é só com o consumo consciente que podemos mudar a situação grave pela qual passa o planeta. Ainda de acordo com a pesquisa, apenas 25% dos consumidores leem o rótulo dos produtos; o problema é que também 25% dos que leem acreditam no que as empresas dizem sobre sua própria atuação.

O Diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, apresentou números da desigualdade de renda no Brasil e no mundo e afirmou não ser possível ter empresas sustentáveis em um mercado tão desigual. Convidou os empresários presentes a atuar proativamente em seus setores, especialmente nas próximas eleições, mostrou dados que revelam que os cinco brasileiros mais ricos detêm renda equivalente a 50% da população de todo o País. E no setor financeiro, onde a renda é mais concentrada, a diferença salarial nos Estados Unidos, por exemplo, chega a 70 vezes, enquanto no Brasil é de nada menos que 700 vezes.

Qualificação

Em um cenário caótico e de grandes e rápidas mudanças, a educação foi tratada no evento como a chave para o sucesso dos negócios. O painel mediado pela jornalista Lea Lobo, Diretora da revista INFRA, contou com a presença da Diretora do Centro de Educação Profissional Nahyr Kalckmann de Arruda (CEPNKA), Maria Letizia Marchese, Especialista na área de Educação Profissional, Educação a Distância e Psicopedagogia; Gilda M. Péres Rios Aldana, Presidente do Centro de Fortalecimento Organizacional (Grax), que apoia o “desenvolvimento de pessoas felizes em empresas de sucesso”; e a nutricionista Nani Culubret, Consultora do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e da FecomércioSP, Especialista em Gestão de Projetos de Alimentação e Nutrição e Gestão Empresarial.

De acordo com Léa Lobo, educação passa também por entender conceitos, destacando que ainda existe uma certa confusão entre as denominações “Facilities Management” e “Multisserviços”. De acordo com a definição da ISO 41.011:2017, Facilities Management é uma função organizacional que integra pessoas, espaços e processos dentro de um ambiente construído com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas e a produtividade do negócio. Já multisserviços é uma denominação para empresas que prestam mais do que um serviço especializado.

A mensagem da mediadora para a audiência do evento é que a vida de um empresário é feita de decisão e planejamento. É preciso organizar a forma e o pensamento de como se deve agir, considerando os riscos e todos os efeitos que sua decisão possa influenciar no desempenho esperado. Para tanto, não é possível trabalhar com amadores, por isso, somente a capacitação de toda as pessoas que trabalham na organização fará com que ela atinja o seu ápice. Reforça ainda que quanto mais perto possível do intangível o empresário e sua equipe trabalhem, maior será o valor da sua empresa.

Gilda Péres, mostrou a importância do conceito de felicidade. Segundo ela, é necessário criar culturas organizacionais focadas no bem-estar de todos os colaboradores, desde a direção até o chão de fábrica, como caminho para o sucesso empresarial. “Trazer felicidade ao ambiente de trabalho é possível quando se tem um olhar sistêmico da empresa, quando se enxerga as pessoas como um ser comunitário, coletivo. Para ser produtivo é essencial que as pessoas se sintam reconhecidas e, portanto, felizes”.

Nani Culubret defendeu que “uma equipe qualificada faz melhor e faz bem feito”. Para ela, é a capacitação que gera qualificação profissional e aumento de produtividade: “A capacitação valoriza as pessoas e a própria empresa e pode garantir empregabilidade. A educação é a chave do negócio, ela é altamente produtiva se houver o envolvimento de todos os níveis hierárquicos por meio de um ciclo de continuidade”.

Maria Letizia Marchese fechou o painel exemplificado o sucesso do trabalho da Facop/Cenpka, em que os números da instituição mostram como, cada vez mais, a qualificação vem sendo considerada primordial para o mercado. Os alunos da instituição são pessoas que não tiveram muita possibilidade de estudo e grande parte deles tem esta primeira experiência na instituição que ela dirige: “Capacitação reflete na postura, reflete na conquista e, especialmente, reflete na possibilidade que um agente de limpeza conclua algo construtivo para a vida dele e de sua família”.

Dignidade

Na abertura do painel Princípios para uma dignidade coletiva o moderador Eduardo Lopes Pereira Guimarães, Presidente do Instituto de Relações Internacionais do Paraná (IRIP), trouxe uma grande reflexão sobre corrupção, exemplificando a operação Lava Jato e outros pontos que descredenciam o valor de empresas e empresários em todo o Brasil.

“Costuma-se dizer que é difícil manter a integridade no ambiente de negócios, mas aí mesmo é que todos precisam enfrentar o desafio de fazer uma gestão voltada para a responsabilidade, principalmente de olho na dignidade coletiva”, inicia o Painelista Ricardo Vacaro. Para respaldar suas declarações, o empresário conta que sua empresa não participa de concorrências públicas em nenhuma esfera governamental. Não que não existam as licitações corretas, mas trata-se de opção para evitar problemas. E lembra: “A revolução tecnológica não permite mais segredos e, queiramos ou não, vivemos em uma era de transparência total. Os casos e investigações recentes, a exemplo da Lava Jato, tão bem exemplificados pelo nosso moderador nos mostram que reputações podem ser destruídas facilmente, e de forma definitiva”.

Mas para chamar a atenção da audiência para o tema da Dignidade, Vacaro questionou: “O que nós fazemos hoje de que – no futuro – sentiremos arrependimento e vergonha?” Ele ainda pontuou princípios para a dignidade coletiva que incluem os princípios de responsabilidade com o negócio ou econômica; de responsabilidade social; de responsabilidade ambiental; e para uma dignidade coletiva.

Já o Presidente do World Trade Center (WTC) para o Sul do País, Josias Cordeiro da Silva, ressaltou que o impacto da ética e da dignidade nos negócios é enorme e vai além da questão moral; impacta também nos resultados econômicos. O empresário citou o exemplo da decisão do maior fundo de investimentos do mundo, o BlackRock, que administra US$ 1 trilhão, em investir apenas em empresas que aplicam os conceitos de sustentabilidade e implementam ações de impacto social.

Compliance

O último painel do Forum Pulire America apontou a relação entre compliance, governança e estratégia corporativa. Uma visão internacional para a sustentabilidade do negócio. O painel teve a moderação de Toni D’Andrea, Diretor Executivo da Afidamp (Itália); e dos painelistas Adonai Arruda, Presidente da FACOP (Brasil); Carlos Huerte, Especialista em padrões Coordinated Incident Management System (CIMS, em português “Sistema de Gestão de Inteligência Consline”) – MANUQUINSA (Nicarágua); Norberto Peluso (Argentina); Eduardo Aurélio Fernández Barrera, Presidente da Asociación Mexicana de Contratistas y Prestadores de Servicios para la Industria (AMCPSI) (México); e Hélio Magalhães, Presidente do Conselho de Administração da Câmara Americana de Comércio do Brasil (Amcham) (Brasil).

Neste painel, o tom do debate ficou por conta do mediador Toni D’Andrea que nos trouxe o pensamento a seguir. E, no contexto do debate, ficou claro que todos os participantes do painel vivem o mesmo desafio diário em seus respectivos países: encontram-se obrigados a reinventar os seus sistemas de produção, de fornecimento de serviços e de apoio para as populações. Agora, acompanhe a fala de Toni D’Andrea:

Foi uma longa travessia pelo mundo dos serviços, interceptamos as suas prerrogativas, seus valores, sua complexidade, talvez também a sua importância em um equilíbrio social evoluído. Os serviços são os bens que envolvem nossa vida cotidiana de maneira, quase sempre, imperceptível, em alguns casos óbvios, e que garantem nosso bem-estar e nosso conforto.

A afirmação da civilização de um país, de uma cidade, de um lugar determinado, depende em grande medida da oferta de prestação de serviços.

Pensem por um momento, no que aconteceria ao sistema no qual vivemos, se de repente não tivéssemos: água potável, ambientes saudáveis, infraestruturas que funcionassem, segurança e alimentos garantidos, hospitais disponíveis e, ainda, assistência às crianças, aos anciãos e aos doentes etc.

Imaginem um blackout repentino nos sistemas tecnológicos: energia elétrica, internet, mobilidade pública, telecomunicações.

Descobriríamos imediatamente que os serviços são os reais geradores da modernidade do nosso tempo, que são a matéria-prima dos nossos gestos e dos nossos pensamentos cotidianos. Um bem ao qual nunca damos importância, porque é dado por adquirido, mas sem o qual não poderíamos viver.

Estamos todos reunidos aqui hoje, para celebrar de forma consciente o mundo dos serviços e para compreender sobretudo como os serviços devem ser projetados, governados, fornecidos e pagos.

O tema que hoje sou chamado a tratar e aprofundar neste painel multinacional é exatamente o de determinar que relações se instauram no universo dos serviços entre compliance, governança e estratégia corporativa.

Procuraremos compreender quais são os equilíbrios possíveis em um sistema social, mas também econômico e político nos quais, circunstâncias nefastas, como corrupção, criminalidade financeira, irregularidades contratuais, especulações sociais, enfraquecem sistematicamente os fundamentos do aparelho público, principal fornecedor de serviços de um país, mas também do setor privado.

Uma das principais mudanças que está atropelando o mundo contemporâneo dos serviços é a quebra da fronteira entre o que é considerado público e o que é considerado privado. Antigamente a distinção entre público e privado era bem marcada.

Grande parte dos serviços era de natureza pública: os parques, os museus, as bibliotecas, os correios, o serviço telefônico, os trens, o fornecimento elétrico, a água potável, a mobilidade urbana.

Havia também uma série de serviços que podiam ser fornecidos em ambas as modalidades: as escolas, as universidades, os hospitais, os teatros, os centros esportivos.

Os serviços exclusivamente privados eram poucos: cinemas, seguros, táxis e tudo o que diz respeito aos serviços acessórios.

Os critérios de distinção eram simples.

O acesso ao serviço público era gratuito ou por um preço relativamente baixo (obviamente com o pagamento dos impostos). O acesso ao serviço privado tinha um custo maior.

A situação hoje aparece profundamente modificada.

• O bike sharing nas cidades é um serviço público ou privado?

• As decorações natalinas urbanas?

• O wi-fi gratuito fornecido por McDonald’s, Starbucks, ou outras cadeias?

A crise americana das hipotecas subprime de 2007 deu início a um furacão financeiro e econômico que atropelou o mundo inteiro.

Quase todos os países se encontram hoje obrigados a reinventar seus sistemas de produção, de fornecimento de serviços e de apoio para as populações.

O que acontece quando aumenta a demanda de serviços e ao mesmo tempo diminuem os recursos à disposição do setor público para fornecê-los?

Pensamos nos serviços de limpeza ou de manutenção dos imóveis. O termo spending review é o sintoma representativo de uma compreensão dos valores de gastos que não necessariamente coincidem com uma melhoria dos fundos públicos, com o incremento da eficiência na atividade de administração.

No momento em que o Estado, nos seus diversos níveis (central, regional, provincial e municipal) não consegue resolver os problemas, as pessoas podem se organizar para satisfazer às necessidades manifestadas pela comunidade.

Quando o sujeito público não consegue satisfazer a demanda de serviços, as pessoas são mais propensas a buscar tais resoluções no mercado. A esse ponto torna-se apenas uma questão de justo preço (quem pode usufruir de que coisa). A intervenção do privado constitui, assim, a segunda possível resposta.

Para resumir, a situação atual vê três diferentes fontes de serviços:

• O sujeito público que continua fornecendo serviços, mesmo que de maneira quantitativa e qualitativamente limitada em relação a antes (os famosos cortes na universidade, na cultura, na pesquisa, no sistema de aposentadoria etc.).

• Os sujeitos privados que aumentam a oferta de serviços no mercado (sobretudo nos setores mais rentáveis como saúde e lazer).

• As pessoas que se auto-organizam para fornecer serviços que necessitam, de modo completamente independente ou através de incentivos institucionais de tipo subsidiário.

Para finalizar o painel que reuniu executivos e entidades da Itália, México, Estados Unidos, Argentina e Nicarágua para discutir os motivos que mantêm o Brasil com dificuldade de atrair investimentos externos, o Presidente do Conselho de Administração da Amcham, Hélio Magalhães, disse que a incerteza e mudança constante de regras no ambiente de negócios ainda é o grande problema a ser enfrentado. “É uma questão de maturidade que o Brasil ainda não alcançou”, disse.

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