19º Congresso InfraFM
 

Eletricidade sobre rodas

A frota de veículos elétricos pode atingir 40 milhões até 2040 no mundo. Por aqui, a expectativa é que 40 mil veículos verdes circulem em 2020. Mas estamos preparados para esta demanda? Onde estacionar e recarregar?

Por Érica Marcondes

Em 25 de julho, durante a 29ª Feira Internacional da Indústria Elétrica, Eletrônica, Energia e Automação (FIEE), em São Paulo, o engenheiro Mario Santos, Presidente do Conselho de Administração da Enel Brasil, compartilhou alguns dados do relatório da empresa britânica Bloomberg New Energy Finance, sobre os veículos elétricos. Segundo a pesquisa, essa frota – que atualmente é de pouco mais de um milhão no mundo – pode atingir 40 milhões até 2040. Além disso, até 2025, o preço dos veículos elétricos não vai sobrepor o dos movidos a combustíveis fósseis.

Já no Brasil, a expectativa é de que 40 mil veículos verdes circulem em 2020, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Atualmente são 5.270 veículos híbridos e elétricos licenciados até o mês de julho, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Trata-se de um número ainda tímido em relação ao potencial nacional, mas que despertou na INFRA a curiosidade de saber mais deste mercado e, principalmente, se os estacionamentos prediais estão se preparando para esta nova direção. Onde estacionar? Onde recarregar?

Gargalos

Antes, é importante conhecer os desafios que ainda precisam ser superados para a popularização deste tipo de automóvel. O principal, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), é a falta de uma política pública que incentive os veículos híbridos e elétricos, por exemplo: redução ou isenção de impostos, tanto para influenciar a utilização massiva desses veículos, como na sua produção e/ou acessibilidade em termos de custos, além de liberação do uso da faixa exclusiva de ônibus, bolsões exclusivos de estacionamento, acesso a algumas áreas da cidade restritas a veículos sustentáveis, entre outras. 

Outro ponto é que os veículos híbridos e elétricos são mais caros do que um veículo comum por conta da tecnologia empregada, o que dificulta a popularização da categoria. No caso do veículo híbrido, por exemplo, há dois motores, um a combustão e outro elétrico, sistema de regeneração de energia, entre outros fatores que o torna tecnologicamente mais avançado e proporcionalmente mais caro. 

O custo das baterias dos elétricos puros é outro fator de peso, já que os componentes correspondem a 50% do valor do carro. Com o aumento da escala, no entanto, a tendência é de que o preço diminua. “Por conta do preço dos veículos, que ainda é alto para o consumidor final em geral, principalmente por causa do imposto de importação, a aquisição se torna inviável”, diz Ricardo Guggisberg, presidente da ABVE.

Também há a necessidade de criação de uma malha de infraestrutura de recarga. A associação está propondo um Plano Mínimo de Desenvolvimento, sugerindo para a iniciativa privada, concessionárias e distribuidoras de energia a instalação de eletropostos. A iniciativa deve ser combinada com projetos que estimulem o uso da recarga por VEs, como táxi, carros compartilhados etc.

Atualmente existem cerca de 100 eletropostos no Brasil. Eles se concentram nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, conforme mostra o aplicativo Plugshare, com as áreas de interesse e até um mapa. Consulte: www.plugshare.com/.

Eletropostos pelo Brasil

Na vanguarda, algumas empresas já se movimentam neste sentido. É o caso da CPFL Energia, maior grupo privado do setor elétrico brasileiro, que em conjunto com a Rede Graal inaugurou no mês passado um eletroposto no Posto Graal 56, no km 56 da Rodovia dos Bandeirantes. 

O projeto é o primeiro corredor intermunicipal para veículos elétricos no Brasil, interligando as cidades de Campinas, Jundiaí e São Paulo, sentido interior - capital. Desde o final de 2015, os usuários da mobilidade elétrica já podiam realizar o trajeto capital - interior com o eletroposto instalado pelas duas empresas no Posto Graal 67, no km 67 da Rodovia Anhanguera.

Conversando com o Gerente de Inovação e Transformação do Grupo CPFL, Renato Povia Silva, descobrimos que um eletroposto (com uma tomada) custa aproximadamente R$ 50 mil e tem a sua instalação realizada em um dia mediante obras civis simples e ligação com a rede de energia, após aprovação do projeto técnico. Quanto à capacidade, 80% do veículo elétrico é recarregado em até 30 minutos em eletropostos de recarga rápida. “É importante destacar que há uma tendência de queda futura nos preços, conforme a produção passe a ser nacional (hoje os eletropostos são importados)”, explica ele.

Já nos eletropostos de recarga semi-rápida, o tempo é de uma a duas horas. Quem visitar o Shopping Parque das Bandeiras, em Campinas, poderá conferir isso de perto; desde fevereiro a CPFL Energia instalou um ponto de carregamento no empreendimento. O equipamento faz parte das ações desenvolvidas no projeto Emotive – Programa de Mobilidade Elétrica da CPFL – e tem como objetivo fomentar a expansão dos veículos elétricos na região metropolitana de Campinas e no Brasil.

Desde 2015, os usuários dos veículos elétricos podiam recarregar os seus automóveis no Shopping Iguatemi Campinas. No total, a cidade dispõe de sete eletropostos públicos, viabilizados pelo projeto Emotive.

O custo de instalação é bancado pela empresa de energia, enquanto o shopping fica com os custos de energia, além de disponibilizar duas vagas exclusivas de estacionamento, o que torna possível a conexão de qualquer modelo de veículo elétrico – compatível com o eletroposto, independente da localização do plug de recarga no carro. Saiba mais em: www.cpfl.com.br/emotive.

“Com o aumento crescente de veículos híbridos e elétricos em todo o mundo e no Brasil, acredito que seja fundamental que os espaços comecem a se planejar para integrarem projetos em infraestrutura para carregamento de veículos elétricos em suas unidades. Com as proibições a veículos a combustão em diversos países europeus, a eletrificação será cada vez mais tendência em todo mundo”, ressalta Guggisberg.

Ecovagas

É o que têm feito gestores de propriedades como a RV Gestão, há 12 anos no mercado de facilities management e que hoje comanda a administração do CEMHS – Centro Empresarial Mário Henrique Simonsen (Barra da Tijuca/RJ); do comercial Torre Presidente (Centro-RJ) e do Residencial GIFT (Vila Isabel-RJ). Com este portfólio, gerencia uma área total de aproximadamente 130 mil m2.

No caso do residencial GIFT, não há vagas especiais, mas a questão da mobilidade é tratada com carinho a partir do uso de bicicletas compartilhadas entre os condôminos.  “No CEMHS, além de um bicicletário que atende parte dos clientes que se deslocam de forma alternativa, existe um projeto que visa selecionar vagas especiais destinadas a veículos elétricos e híbridos a partir de 2018”, afirma Alexandre Roxo, CEO da RV Gestão.

Já no Torre Presidente, um prédio com certificação LEED Silver, a concepção levou em conta a integração dos sistemas públicos de transporte (há metrô e ônibus na porta). Além disso, o prédio tem 52 vagas de estacionamento, sendo três delas destinadas a veículos de baixa emissão e baixo consumo. As “Ecovagas” têm localização privilegiada na planta da garagem. Podem utilizá-las os veículos classificados com nota 4 ou 5 estrelas pelo programa Nota Verde do IBAMA ou classificados com o selo A pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular do INMETRO. Esses espaços estão demarcados e sinalizados com placas e já existe um circuito pronto e instalado, preparado para receber as tomadas para recarga de veículos elétricos.

“De forma geral o assunto ainda não entra nas pautas das reuniões de condôminos como uma demanda real. Mesmo assim, estamos conectados a esta realidade, procuramos nos antecipar e oferecer ao cliente as melhores opções de conforto neste quesito”, conta Roxo.

Empresas de estacionamento

É o que tem feito também o grupo francês Indigo, à frente, por exemplo, da operação brasileira do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde são manobrados mais de 5.300 carros por dia – um trabalho feito por 320 manobristas contratados e treinados pela empresa.

Responsável por mais de 4.600 estacionamentos pelo mundo, sendo mais de 190 estacionamentos e 190 mil vagas em shopping centers, aeroportos, complexos de eventos, arenas, universidades, hospitais e centros comerciais no Brasil, a Indigo conta que no exterior a utilização de carros elétricos é uma realidade. E que por aqui tem seus complexos adaptados para receber este tipo de automóvel – caso do Indigo Center, localizado no centro histórico de Porto Alegre, onde há vagas para veículos elétricos/híbridos.

A verdade é que a mobilidade elétrica desponta, no contexto internacional, como uma mudança de paradigma para o transporte público e privado e um importante vetor para a construção de cidades mais inteligentes e eficientes. E por aqui não será diferente. “A pergunta não é mais se a ideia irá vingar, e sim quando e como. É só uma questão de tempo”, lembra Renato Povia Silva, do Grupo CPFL. E aí, o seu empreendimento está preparado?

Vantagens e benefícios da frota elétrica

Sustentabilidade. Estes veículos apresentam baixa emissão de poluentes; alguns modelos têm emissão zero de poluentes. Eles são silenciosos, o que contribui para a qualidade de vida em geral.  E econômicos; estudo da CPFL Energia mostra que o valor do quilômetro rodado de um carro a combustão, considerando o uso do etanol, é de aproximadamente R$ 0,19. No veículo movido à eletricidade, este valor é R$ 0,05, ou seja, quatro vezes menor. Por fim, há a isenção de IPVA em sete estados brasileiros (MA, PI, CE, RN, PE, SE e RS) e alíquota diferenciada em outros três (SP, RJ e MS).

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Valdireni Crippa

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