Sorteios 11ª Expo
 

Verdades difíceis

Não há inovação na limpeza no combate ao novo Coronavírus

Todo mundo sabe, ou pelo menos deveria saber à essa altura, que água e sabão matam o novo Coronavírus. Mesmo assim, somos bombardeados diariamente com "inovações" promissoras nos protocolos de reabertura e vídeos de empresas, com ações diversas para conter o vírus e garantir "segurança" no uso dos espaços. Um arsenal "pra inglês ver". Continue lendo que eu vou explicar para vocês.

Vamos então aos fatos, pois contra eles não há argumentos, correto?

Sabe-se que o novo Coronavírus denominado SARS-Cov-2, causador da COVID-19, se transmite principalmente: de pessoa a pessoa por gotículas respiratórias produzidas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra; por contato com superfícies ou objetos contaminados, onde o vírus pode ficar por horas ou dias, dependendo do tipo de material (ANVISA, Nota técnica nº 47).

Bom, dessa forma, temos duas ações a serem tomadas: uma ação depende das pessoas - uso de máscaras, limpeza das mãos, distanciamento social, no aparecimento de sintomas ficar em casa etc. Outra ação depende do ambiente, e é aí que eu quero chegar. Vamos falar sobre um assunto de minha especialidade: a limpeza!

Segundo a Associação Brasileira de Limpeza Profissional (Abralimp), que desenvolveu e divulgou gratuitamente excelentes manuais de procedimentos de limpeza para contenção do Coronavírus em vários ambientes, ainda não existem estudos que sinalizem produtos específicos para combater o Coronavírus, contudo, a indicação é, em todos os ambientes, a adoção de medidas mais cuidadosas de higienização, isto é, realizar a limpeza para a remoção de sujidade com produtos detergentes, multiuso ou dois em um (limpeza + desinfecção) e a desinfecção para a eliminação de micro-organismos, com a utilização de produtos desinfetantes de uso geral ou hospitalar, respeitando a diluição e tempo de contato informados no rótulo pelo fabricante (Abralimp - Manual de processos de limpeza durante a pandemia de Covid-19).

Em poucas palavras: o processo é o mesmo de sempre: 1º lavação e 2º desinfecção com qualquer desinfetante (aprovados pela ANVISA), com atenção e destaque na utilização de EPIs (equipamentos de proteção individuais).

Mas o que muda? Muda que agora você precisa limpar as superfícies e ambientes mais vezes ao dia, porque se alguém estiver contaminado e tocar na superfície o vírus pode ser transmitido para outra pessoa. Simples assim!! #soquenao

Vamos retomar as ações e responsabilidades: 1º é o autocuidado, depende de cada um, e isso é cultural, as pessoas não estão habituadas a fazerem isso, então precisamos cuidar mais delas, educando-as e criando espaços que estimulem o autocuidado, com identidades visuais, disponibilidade de produto para assepsia das mãos e de limpeza das superfícies. Sabe por quê? Porque a limpeza não vai dar conta de tudo, não podemos colocar esse fardo na limpeza, não há no mundo tecnologia capaz de resolver essa equação. As pessoas precisam estar cientes das responsabilidades individuais.

Ao invés disso, nós criamos uma "falsa" sensação de segurança, criando dispositivos como túnel de desinfecção de corpo humano (Como pode aplicar uma solução química na pessoa se o vírus sai de dentro dela?!), ressaltando que a Anvisa através da Nota Técnica 51, atenta que, não existe até o momento, produto desinfetante seguro e aprovado para aplicação no corpo humano.

Outro ponto que preciso chamar atenção é para as questões de acessibilidade, na utilização de totens com acionamento pelos pés (que não é acessível obviamente) e o uso de tapetes ou capachos com soluções sanitizante, para limpeza dos pés. Só lembrando que o piso não é a principal fonte de disseminação do vírus (conforme já citado no início), mas o uso dos capachos é ótimo para nós da limpeza. Com o uso dos capachos retemos a maior parte da sujeira, diminuindo a necessidade de limpeza e o desgaste dos revestimentos.

Porém, não podemos nos beneficiar da utilização deste dispositivo, e esquecer que a norma ABNT 9050/2015 de acessibilidade a edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos diz que os capachos, tapetes e similares devem ser evitados em rotas acessíveis, quando existentes, devem ser firmemente fixados ao piso, embutidos ou sobrepostos e nivelado de maneira que eventual desnível não exceda 5 mm, as superfícies não podem ter enrugamento e as felpas ou forros não podem prejudicar o deslocamento das pessoas. E a sinalização visual e tátil no piso indica situações de risco e direção, devendo ter alto contraste em relação ao piso. Sem contar ainda, o aumento do risco de queda ao umedecer os pés de quem acessa o espaço, principalmente idosos.

Mas o destaque aqui é a operação desse tapete embebido em solução desinfetante. A maior parte dos produtos químicos tem ação oxidante, ou seja, ele pode danificar o piso (por contato prolongado com a solução) e o calçado de quem por ali pisar. Ele também tem um tempo de ação/efetividade, é necessária a troca da solução e limpeza do tapete com frequência, de acordo com o volume de circulação, um trabalho árduo que você pode substituir por exemplo (modo Bela Gil), com aumento da frequência de limpeza dos pisos com auto lavadoras de piso, que além de garantir a limpeza com eficiência, tem produtividade, valoriza o profissional da limpeza, garante bem estar e ergonomia, e ainda são equipamentos bonitos e chamam a atenção do público para o cuidado que a empresa tem com a limpeza.

Por último e não menos importante, é a promessa de aplicação de químicos que garantem a limpeza por 72 horas, essa é uma interpretação equivocada, da ação do produto de limpeza, existem produtos com ação bacteriostática, ou seja, de forma ilustrativa, se você transportar 10 unidades de bactérias em uma superfície onde não tem esse produto, ele vai seguir seu ciclo de multiplicação e por exemplo (ludicamente), no primeiro minuto de 10 ele sobe para 20, depois de 20 para 40 e assim consequentemente, aumentando a carga bacteriana na superfície.

Com a aplicação dessa solução a única coisa que não acontece é que, durante 72 horas, a carga ficará em 10, o produto impede a multiplicação. Mas isso não se aplica ao novo Coronavírus, ele já é um "bixinho" que só cresce dentro do corpo humano, ou seja, com os sem a aplicação desse produto, no caso do Coronavírus, se a pessoa contaminada tocar em uma superfície e colocar 10 unidades vírus, eles permanecerão em 10 até morrer pelo tempo de acordo com o a densidade da superfície (de 3 a 15 dias). Dessa forma, a aplicação desse produto, não muda nossa vida no caso do Corona, mas para os outros tantos vírus e bactérias ajuda muito.

Bom, agora vamos as sugestões:

Primeiro, como já citado, tornar os ambientes educadores é primordial. Segundo, você gestor que se coloca como preocupado, interessado, que quer realizar vídeos comprometidos, sugiro olhar para o seu processo, ver como suas equipes executam suas tarefas nos bastidores, o tipo de material fornecido para que elas trabalhem, estou falando de ficar um dia inteiro ao lado de um auxiliar de limpeza olhando o como ele faz e buscando implementar melhorias, como a mecanização dos processos rotineiros de limpeza, com propósito de exigir menos esforço físico das pessoas que atuam na limpeza, a partir do uso de equipamentos que apliquem desinfetantes nos espaços, lavadoras e secadoras de piso automáticas, extratoras de vapor para limpeza dos sanitários, varredeiras, aspiradores portáteis, carrinhos funcionais equipados e organizados com os materiais de trabalho, uso de panos de microfibra, utilização de químicos com rótulo ecológico ABNT não nocivos à saúde e ao meio ambiente etc.

Os equipamentos aumentam a produtividade, possibilitando a maior frequência da limpeza exigida nesse período. Já o investimento retorna em maior qualidade, maior satisfação do cliente, menor número de faltas e afastamentos (logo, menor desconto em contratos), menor turnover (logo menores custos com admissões e demissões), colaboradores comprometidos, empoderados e valorizados dentro do processo. Podemos aproveitar esse momento para valorizar aqueles historicamente invisibilizados. Elas e eles foram, são e sempre serão essenciais, que tal os valorizarmos agora?!

Pense no simples, reflita sobre essas soluções, valorize as equipes, se for para investir em soluções comece pelo simples, pelo básico, comece no pequeno, no detalhe. Você pode fazer isso, se for o proprietário da empresa de limpeza, apresentando essas inovações ao seu cliente, diluindo esse investimento em uma contrato mais longo, garantindo sua permanência mais tempo no site (atrelando seu investimento à uma vigência contratual maior), ou se for o cliente, exigindo que o prestador faça melhor, invista em materiais e equipamentos, e claro, remunere ele por isso também, afinal tudo tem um custo, e garanto que este vale muito a pena.

Ahhh e filmar essa operação mecanizada também dá um vídeo lindão para atrair os clientes!

Juntos somos mais fortes.


Mayara Carvalho é Coordenadora de Operações em Limpeza e Sustentabilidade no SESC-SP


Outras referências

ANVISA, Nota técnica nº 34, Recomendações e alertas sobre procedimentos de desinfecção em locais públicos realizados durante a pandemia da COVID-19, de 09 de abril de 2020.

ANVISA, Orientação - Covid 19: só use saneantes regularizados, de 17 de março de 2020.

Fotos: Divulgação

Comentário(s):

Daniela Zeni Zeni - [email protected]
Mayra, adorei! adoraria conhecer a operação do SESC. Grata, Daniela Zeni
Priscila dos Santos - priscila,[email protected]
Excelente e esclarecedor texto! Obrigada!

Envie os nossos conteúdos por e-mail. Utilize o formulário abaixo e compartilhe os link deste conteúdo com outros profissionais. Aproveite e escreve uma mensagem bacana.

Faça uma busca


Visitas Técnicas esgotando

Mais lidas da semana

Operações

Do auxiliar de limpeza ao presidente: segurança é responsabilidade de todos

Para especialista, prevenção de incêndios é urgente e negligência pode ser explicada através dos três pilares da manutenção.

Outside Work

Livro para expandir horizontes do conhecimento e da imaginação em FM

E os malefícios da dedicação às redes sociais para a saúde

UrbanFM

O que mudou na gestão do Parque Ibirapuera?

Camila Praim, coordenadora de operações, fala sobre experiência na gestão do parque durante processo de concessão e de desterceirização.

Workplace

Qual o futuro dos escritórios?

Pesquisa indica pontos que serão tendência ao longo de 2024.

Sugestões da Redação

Revista InfraFM

Da engenharia à gestão sustentável

Acompanhe nossa conversa com Irimar Palombo sobre inovação, desafios em sua carreira, que tem contribuído para a transformação dos espaços e construção do futuro no escopo do Facility Management.

Revista InfraFM

Gestão de Facilities em ambientes remotos e industriais

Uma visão abrangente sobre experiências, segurança e sustentabilidade nas operações de grandes empresas.

Revista InfraFM

O escritório como espaço acústico para atender ao modelo híbrido de trabalho.

Artigo da Arqta. Dra. Claudia Andrade e do Eng. Acústico Bruno Amabile.

Revista InfraFM

Gestão de Facilities e a ciência por trás dos data centers

A ciência por trás dos data centers, artigo de Henrique Bissochi e Edmar Cioletti, ambos da Tools Digital Services, uma empresa do Grupo Santander.

 
Dúvidas sobre os EVENTOS?
Fale com a nossa equipe pelo WhatsAPP