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Japão dá lição de limpeza profissional

O que o Facility Management pode aprender para transformar mentalidades

Por Léa Lobo

Japão dá lição de limpeza profissional

Foto: InfraFM


Durante minha visita ao Japão, a limpeza impecável das ruas nas cidades, templos, avenidas, rodovias, comércio, entre outras áreas de Tóquio, Quioto e Osaka me prendeu a atenção. Minha dúvida foi imediata: como o Japão consegue manter esse padrão sem depender de um exército de faxineiros? E, mais importante: o que o Brasil e as empresas de facilities services podem aprender com essa cultura para enfrentar a escassez de mão de obra no setor de limpeza?

Vivenciando 14 dias por lá, aprendi que sou eu quem devo levar o lixo que produzo para casa e fazer a destinação correta dos resíduos. Normalmente, não se come nas ruas, por exemplo. Todos os dias eu saía com um saquinho de lixo na bolsa para, ao retornar ao hotel, realizar o descarte adequado das garrafas de água e petiscos, papeis, recibos que eu produzia durante o dia. Nem vou comentar, os banheiros públicos muito bem higienizados, fosse no metrô, num shopping, num templo ou num parque e também na Expo.

Japão dá lição de limpeza profissional

Foto: InfraFM



Um país onde cada cidadão é gestor do espaço

Quem visita o Japão estranha a ausência de lixeiras públicas, mas não vê sujeira nas ruas. Isso porque, desde cedo, os japoneses aprendem que o lixo é sua responsabilidade. Crianças limpam suas próprias salas de aula, empresas promovem mutirões e a vergonha social pesa mais que multas. É um sistema que une educação, disciplina e senso coletivo.

Estudos apontam que essa cultura não depende apenas de fiscalização: há um pacto social invisível em que cada um se torna guardião da limpeza. Um reflexo disso é a rotina das escolas japonesas, onde não existem faxineiros: os alunos varrem, recolhem e higienizam o espaço todos os dias.

Limpeza impecável em meio a multidões

Para mim, a limpeza na Expo Osaka 2025 (que foi o objetivo da viagem) virou um espetáculo à parte. Nem milésimos de sujeira apareceram em todo o pavilhão, mesmo com mais de 150 mil visitantes circulando diariamente. Em certos dias, o número chegou a 162 mil pessoas, e ainda assim o chão permanecia impecável. Vale lembrar: o evento ocupou 155 hectares de terreno em Yumeshima, incluindo o gigante Grand Ring, uma estrutura de madeira com 61.035 m², reconhecida pelo Guinness como a maior do mundo. Um feito que reforça a força cultural e coletiva do Japão em manter espaços limpos, mesmo sob pressão massiva.

Japão dá lição de limpeza profissional

Foto: InfraFM


O contraste com a realidade brasileira

No Brasil, a limpeza urbana e corporativa ainda é tratada como “serviço terceirizado”, sustentado pela mão de obra de milhares de profissionais, cada vez mais escassa. Segundo o que acompanhamos no setor aqui no Brasil, faltam trabalhadores dispostos a atuar em funções de limpeza, e a rotatividade é alta.

Esse cenário pressiona o Facility Management a pensar em novos modelos de gestão: como trazer para dentro das organizações um senso de responsabilidade compartilhada, ao estilo japonês? E como aliar isso à tecnologia para reduzir a dependência exclusiva de equipes numerosas?

Lições aplicáveis a cidades e empresas

- Educação corporativa: incluir em programas internos a conscientização sobre o uso responsável de espaços, do descarte correto de resíduos ao cuidado com áreas comuns.

- Tecnologia e inovação: sensores IoT, robôs de limpeza e sistemas inteligentes já estão disponíveis para reduzir a sobrecarga da mão de obra humana.

- Cultura de corresponsabilidade: pequenas mudanças, como colaboradores cuidando de suas estações de trabalho, reduzem a demanda sobre equipes terceirizadas.

- Modelos híbridos: a terceirização continua essencial, mas com foco em atividades críticas e especializadas, enquanto tarefas simples podem ser absorvidas pelos próprios usuários do espaço.

Olhar das visitantes

Na minha opinião, esta experiência me ensinou que o FM brasileiro precisa ir além da contratação de serviços e abraçar uma agenda cultural. Não basta terceirizar a limpeza: é preciso educar ocupantes, implementar processos sustentáveis e usar tecnologia como aliada.

Se o Japão consegue manter cidades inteiras impecáveis sem depender de legiões de faxineiros, por que não podemos, dentro dos nossos edifícios corporativos, adotar práticas que distribuam responsabilidades e valorizem ainda mais a mão de obra especializada?

É claro que não estamos falando de perfeição, mas sim de uma cultura do zelar. Vale acrescentar que, enquanto eu e minhas companheiras de viagem; Edilaine Siena (GPS), Fernanda Carvalho (EloPar) e Fátima Sousa (FS Educa) andávamos pelas ruas e pelo comércio, sedentas por aprender, também observamos profissionais de operação limpando vias com maquinários ultrapassados e, em alguns casos, pouca produtividade. Fátima Sousa, inclusive registrou uma idosa limpando banheiros sem luvas, um contraste que mostra que a capacitação também se faz necessária por lá. A noite também vimos baratas e ratos passeando, seres presentes em qualquer lugar do mundo. Em um outro momento, registramos uma equipe fazendo manutenção em uma loja de grife, todos os funcionários impecavelmente paramentados com seus EPI´s, e do outro lado, numa loja também de grife, havia um grupo fazendo manutenção de meias...e sem nenhum EPI...

Por fim, o que desejo registrar com este artigo é que, enquanto o Brasil ainda vê a limpeza como algo “de terceiros”, o Japão mostra que o segredo está na cultura de pertencimento. Talvez o grande desafio das empresas de Cleaning Facility Services seja transformar a mentalidade de que limpeza “é obrigação de alguém” para uma visão de que o espaço é de todos, e todos cuidam dele.


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