TELELOK
 

Capacidade ociosa: como aproveitar melhor nossas máquinas?

Por Bruno Diesel Gellert*

Nossa indústria é tida há tempos com uma utilização da capacidade de produção abaixo da que é verificada em outros países. Claro que parte do problema se agravou com a oscilação da demanda por conta das recentes crises econômicas e não podemos negar isso. Mas, por outro lado, mesmo que os atuais índices de ociosidade estejam acima da média registrada nos últimos dois anos, muito antes da turbulência na economia, nossas fábricas já apresentavam a necessidade de um uso mais intensivo e planejado de suas máquinas. Essa atitude poderia ter ajudado muitas empresas a passarem com mais tranquilidade pelo atual momento de recessão, além de prepará-las para quando a economia reaquecer.

Para se ter uma ideia, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada da Indústria (Nuci) passou dos 85% em 2008, época em que as indústrias viveram seu auge. Calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o mesmo índice havia caído para a casa dos 74,7% em julho de 2017, devendo se recuperar lentamente. Mas se considerarmos a média histórica, calculada desde 2005, o uso da capacidade acabou se mantendo em torno de 80,7%. Então, se descontarmos a margem de segurança dentro desses 20% ociosos, ainda sobraria espaço para incrementar a produção. Quando a demanda aquecer, não poderíamos aproveitar essa ociosidade?

Existem algumas saídas possíveis, mas teríamos também que nos inspirarmos em países como a Alemanha, a China e os Estados Unidos, onde as fábricas produzem quase 24 horas por dia. Aqui no Brasil, a tendência é pensarmos na capacidade instalada considerando apenas um turno de oito horas de segunda a sexta-feira, com algumas exceções. Se pensarmos que a máquina parada também é custo, teríamos mais ganhos de escala usando o parque fabril de forma mais intensiva. Mas isso requer planejamento e a busca de oportunidades em mais de um setor. Faz sentido investir pesado em uma máquina, para deixá-la rodando apenas durante oito horas ou menos?

Outro aspecto a ser considerado é a questão dos turnos. Recentemente, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou pesquisa feita com mil indústrias em 2017, entre os meses de abril e maio, em que destaca pontos interessantes: nas fábricas paulistas, a utilização de capacidade instalada está atualmente em 67,5%, sendo que o maior nível de uso aconteceu em 2004. Considerando desde lá, a produtividade média fica em torno de 82,1%. Para atingir essa capacidade, as plantas fabris utilizaram, 7,2% de horas extras sobre o total de horas trabalhadas normais (8h). Com as extras, elas são capazes de produzir 18,8% a mais que seu maior nível alcançado e adotando turnos adicionais, a produção pode aumentar até 28,8%, ou seja: existe espaço para crescer.

Mas como fazer sem demanda?

O fato é que antes de pensarmos em saídas, sempre nos apegamos à questão da demanda fraca. Ela é a segunda maior preocupação da indústria, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), perdendo apenas para a carga tributária, entre os assuntos que tiram o sono dos fabricantes. Essas são questões realmente impactantes e que pesam nos negócios, mas que fogem totalmente ao nosso controle. O que poderíamos fazer, então? Deveríamos manter constantemente em nossa mente, que aproveitar ao máximo o uso de recursos, aumentaria a nossa chance de recuperar os ganhos. E não precisamos esperar a retomada econômica para pensar nisso.

Buscar maior flexibilidade para o atendimento da demanda de diferentes mercados pode trazer uma oportunidade para aproveitar o aquecimento de setores distintos, produzindo para cada um deles nas épocas mais vantajosas. Percebendo o aquecimento de um determinado mercado, você pode usar a sua capacidade ociosa para atender essa demanda. Então, por que não se planejar?

*Bruno Diesel Gellert é Engenheiro de Materiais formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Coordenador do Grupo de Trabalho de Manufatura Avançada (GTMAV) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), e do Indtech da ABStartups, comitê de startups industriais.

Envie os nossos conteúdos por e-mail. Utilize o formulário abaixo e compartilhe os link deste conteúdo com outros profissionais. Aproveite e escreve uma mensagem bacana.

Faça uma busca


MILLICARE

Mais lidas da semana

Operações

Como transformar ciência em confiança para Facilities

Tecnologia, laudos, relatórios e método exclusivo: conheça a tecnologia e solução em higienização de superfícies têxteis que faz da MilliCare a parceira estratégica para líderes em Facilities

Carreira

Tecnologia, humanização e estratégia

Como Sonia Keiko está transformando o modelo de manutenção predial no Brasil

Carreira

Será que falta só mão de obra? Ou será que falta gente que cuida de gente?

Uma gestão que vai muito além da manutenção, ela começa com empatia e respeito a equipe dos bastidores

Mercado

Temon Serviços aposta em IA e bônus por assiduidade para engajar colaboradores

Líder na manutenção dos maiores edifícios comerciais do país, empresa amplia investimento em Recursos Humanos e se alinha às transformações do setor

Sugestões da Redação

Revista InfraFM

Pessoas, espaços e dados: nova rotina na gestão de Facilities da Roche

Da horta colaborativa ao projeto K6, inovação e propósito movem a área de operações

Revista InfraFM

20º Congresso e 12ª Expo InfraFM 2025

A 12ª Expo e o 20º Congresso InfraFM consolidam o posto de maior encontro do setor na América Latina. Três dias de evento, 165 palestras pulsando inovação e conteúdo estratégico, 136 expositores e 5 patrocinadores.

Revista InfraFM

11º Prêmio Indicados InfraFM 2025

O reconhecimento que move e inspira o setor do Facility, Property & Workplace Management

Revista InfraFM

Expo InfraFM 2025 é onde o futuro da gestão acontece

O Expo Center Norte foi palco da maior reunião de soluções, ideias e conexões para o setor de Facility, Property e Workplace Management da América Latina. A 12ª Expo InfraFM reuniu 136 expositores que mostraram, na prática, como tecnologia, sustentabilidade e inteligência de dados estão redesenhando

Revista InfraFM

Por que o esg da Globo deveria estar no seu radar?

O Relatório ESG 2024 da Globo destaca avanços na agenda ambiental da empresa.

Revista InfraFM

Infraestrutura sob controle e os bastidores do Facility Management na cart

Por dentro da operação que garante eficiência, segurança e sustentabilidade em mais de 400 km de rodovias

 
Dúvidas sobre os EVENTOS?
Fale com a nossa equipe pelo WhatsAPP